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Chaves de leitura e perguntas para o mês da Bíblia

Chaves de leitura e perguntas para o mês da Bíblia

1.5. Chaves de leitura e perguntas para o Mês da Bíblia 

 
Apresentamos, agora, a principal porta de entrada da Carta aos Gálatas: o Hino Batismal. É o Hino que abre as fronteiras para o religioso, para as etnias (raças), para o social e para homens e mulheres. 
 
1.5.1. Entrada principal: 0 Hino Batismal
Quem conhece as casas da zona rural do interior do Brasil sabe que elas têm várias portas de entrada. De qualquer lado que se chega, é possível entrar. A Carta aos Gálatas também é assim. Tem várias portas. Alguns gostam de entrar lendo-a do início ao fim. Outros preferem lê-la a partir da “liberdade em Cristo”. Há pessoas que entram pela proclamação da “justificação pela fé”. Outros, ainda, gostam de lê-la a partir da experiência de Jerusalém, a favor dos étnicos etc. 
 
A intenção deste Texto-Base para o Mês da Bíblia é apresentar uma entrada toda especial que parece ser a porta mais importante na construção da Epístola. É uma entrada especial e fascinante. Chama-se "Hino Batismal”. Está no centro da carta (Gl 3,26-28). O texto diz assim: 
 
26Com efeito, vós todos sois filhos de Deus pela fé no Cristo Jesus. 27Vós todos que fostes batizados em Cristo vos revestistes de Cristo. 28 Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só, em Cristo Jesus. 
 
No que diz respeito à construção textual, esse excerto está no centro da Epístola (Gl 1,1-6,18). Todas as argumentações do Apóstolo são sintetizadas nele. Está também no meio da Segunda Parte (Gl 3,1-5,1), entre duas demonstrações escriturísticas. 
 
Este Hino Batismal é como o sol irradiando seus raios. Qualquer texto (perícope) da Carta recebe as luzes do hino. Significa que esse pequeno texto resume tudo o que está escrito em toda a Epístola e, ao mesmo tempo, se faz sentir por toda a Carta. O projeto de Gálatas 3,26-28 vai e volta sem parar. Significa que qualquer outra perícope – por exemplo, o encontro de Jerusalém (GI 2,1-10), o desencontro de Antioquia (Gl 2,11-14), as memórias de Paulo sobre o primeiro amor (Gl 4,12-20), as obras da carne e do Espírito (Gl 5,16-25) – é iluminada pelo Hino Batismal. Esse Hino foi um programa de vida que ajudou o Apóstolo na escrita da contundente Carta aos Gálatas e no chamamento à conversão dos que abandonaram o verdadeiro Evangelho. 
 
É necessário entender a história do Hino Batismal. Ele não foi elaborado por Paulo. Provavelmente, o Hino havia sido redigido por comunidades cristãs anteriores ao Apóstolo que celebravam a utopia de uma “nova criatura" (Gl 6,15). Eram comunidades que tinham, entre seus membros, estrangeiros, escravos e mulheres. Quando Paulo o conheceu e começou a celebrá-lo com suas comunidades, deve ter se impressionado com ele. Tanto que tal Hino foi reescrito em 1Coríntios (1Cor 12,13), Romanos (Rm 10,12) e em uma comunidade pós-Paulo, a de Colossos (Cl 3,11). 
 
O Hino Batismal (Gl 3,26-28) foi um projeto que buscava uma possível sociedade desconhecida pelo império romano, pela civilização grega e pelo antigo Israel. Ele propõe, diferentemente dos romanos, gregos e judeus, a experiência da liberdade e da igualdade, a partir de uma visão de abertura de fronteiras para todos os lados: era preciso superar as discriminações étnica, religiosa, social e cultural. 
 
1.5.2. A unidade em Jesus Cristo 
 
A força do Hino, até hoje, é exatamente a unidade em Cristo Jesus (Gl 3,26.28d). Por isso, no Mês da Bíblia, ao serem feitas as reflexões da Carta aos Gálatas, será preciso ficar atento ao seguinte: toda perícope, de qualquer um dos seis capítulos, sempre precisa ser entendida tendo diante dos olhos o Hino Batismal. Ou seja, ao refletir, ao meditar, ao fazer a leitura orante de qualquer parte da Carta, é bom se perguntar, pessoal ou comunitariamente, sobre a “unidade em Cristo Jesus”, porque todos são “filhos de Deus" e “batizados”. É preciso interrogar, já que são “revestidos de Cristo”, como atualmente é acolhido o estrangeiro, como é recebido o trabalhador, o desempregado, o escravo análogo, como é a relação entre homens e mulheres em um tempo no qual o patriarcalismo ainda é forte e desumano. Por quê? Porque todos, precisamente todos, são “UM só em Cristo Jesus” (Gl 3,28d). 
 
1.6. Estrutura da Carta aos Gálatas 
 
• Parte I: O verdadeiro Evangelho e os conflitos de Jerusalém e Antioquia (GI 1-2).
• Parte II: Demonstração bíblica: a fé, a liberdade cristã, a unidade em Cristo, a abertura de fronteiras (GI 3-4 e 5,1).
• Parte III: A vida no Espírito leva à abertura de fronteiras (GI 5,2-6,10).
• Conclusão (próprio punho): mística da liberdade e nova criatura (GI 6,11-18) 
 
Primeiras perguntas para o Mês da Bíblia 
 
Palavra eclesial: “Todo cristão é chamado a trabalhar pela unidade da Igreja (Papa Francisco, 9/5/2020). 
 
1. Há 50 anos (1971-2021) comemora-se o Mês da Bíblia no Brasil. Setembro foi escolhido por causa da Festa de S. Jerônimo (30/9). O que você sabe sobre esse Santo e sobre a sua relação com a Bíblia? 
 
2. Nas décadas de 1970-1990, as celebrações eram efusivas e calorosas em quase todo Brasil. Como podemos reavivar o ardor bíblico em nossas comunidades? 
 
3. Neste mês de setembro, refletiremos sobre a Carta aos Gálatas, de acordo com o tema “unidade em torno de Jesus Cristo”. Vamos apontar alguns fatores positivos da “unidade” eclesiológica entre nós? 
 
ETAPAS DA EXPOSIÇÃO 
 
A Carta aos Gálatas é dividida em três grandes partes. Na primeira, há um esforço do autor (Paulo) em apresentar o único Evangelho, aquele de Jesus Cristo. Apesar das grandes adversidades, delineou-se que ele e os helenistas poderiam e deveriam anunciar aos gentios. Na segunda parte, por causa das atividades dos missionários judaizantes ou oponentes, o autor teve que trabalhar, em nível bíblico, as questões da “fé", da “liberdade cristã”, da “unidade em Cristo” para vislumbrar a abertura de fronteiras em todas as direções. É aqui que se encontra o apogeu da carta: o “Hino Batismal”. Na terceira parte, o autor aborda a questão da “vida no Espírito" que leva à abertura de fronteiras. Ele insiste, fortemente, na experiência comunitária do amor e mostra que o Espírito de Deus faz seu campo de ação na comunidade. O texto conclui-se com a apresentação da mística da liberdade e da mentalidade da "nova criatura".

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